9 de julho de 2011

Brava arquitetura portuguesa


A arquitetura portuguesa, que está entre as minhas prediletas no mundo, tem em seus expoentes máximos Álvaro Siza Vieira e Eduardo Souto de Moura. Se tivesse que definir em uma palavra a qualidade que a torna tão especial, diria que é austera. Austeridade que pode ser percebida na justeza ao utilizar materiais ou solucionar estruturas, ou ainda ao implantar o objeto arquitetônico.Tudo ali tem um motivo exato para ser, sem modismos ou exibicionismos. Baseia-se ainda nos mais tradicionais preceitos da arquitetura moderna, sem no entanto cair no anacrônico. É contemporânea como poucas. O produto disso é uma forma lapidada por todas as restrições e demandas, técnicas e humanas. O exato oposto das arquiteturas formalistas que se esforçam para fazer caber em si toda a complexidade de um programa, contexto histórico e pior, as pessoas. 

Em seu discurso ao receber o Pritzker desse ano, Souto de Moura deu sua explicação para a arquitetura contemporânea portuguesa ser assim, partindo da Revolução dos Cravos pela qual o país passou em 1975 . "Do que precisávamos era de uma linguagem clara, simples e pragmática para reconstruir um país, uma cultura, e ninguém melhor que o proibido Movimento Moderno poderia responder esse desafio. Não era só um problema ideológico, mas, sobretudo de coerência entre material, sistema construtivo e linguagem." E finalizou com "O importante é que arquitetura fosse "construção", assim com urgência, nos pedia o país". Simples assim.

Mas quando se pensava que os cinzas, brancos, pedras e concretos seriam sempre a marca registrada dessa arquitetura, Souto de Moura nos surpreende com o projeto da Casa das Histórias Paula Rêgo_um ateliê museu para sediar o trabalho da pintora portuguesa. Volumes excêntricos em concreto cor de rosa!? Nesse momento pode parecer um paradoxo considerar algo assim austero, mas como disse, tudo ali tem um motivo pra ser. Do alto dos volumes chega placidamente a luz natural para iluminar os quadros e, a cor, ah, a cor é fundamental como o ar na vida de uma pintora.











Casa das Artes, em Porto, Portugal, 1981-91











Casa em Bom Jesus, Braga, Portugal, 1989-94















Casa das Histórias Paula Rêgo, Cascais, Portugal, 2006-09



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